Tele Semana nº 88, de 27 de setembro de 1974 |
Na edição de 27 de setembro de 1974 da popular revista "Tele Semana", Tonicha foi a imagem de capa, numa bela fotografia tirada durante o Festival RTP da Canção desse mesmo ano. Recorde-se que então saiu vencedor Paulo de Carvalho, com o hino "E Depois do Adeus".
Nas páginas centrais, podemos ler um interessante texto, assinado por Cipriano Ricardo (C.R.), sobre um leque de cantores que tinham acabado de lançar discos, cujos temas os afastavam do repertório do tempo da RTP de Ramiro Valadão e que os deixavam com grandes responsabilidades perante os novos públicos.
Tele Semana nº 88, de 27 de setembro de 1974 |
São eles: Tonicha, Fernando Tordo, Duarte Mendes, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho, Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo. Destaque também para dois letristas muito cantados na época: Ary dos Santos e José Niza. Aqui fica o texto original:
A Canção entre "uns" e os "outros"
Se mais e melhor não houvesse (e havia, se havia!...) para ilustrar a orientação imprimida pela RTP de antanho, estariam os seus invariáveis programas ditos de variedades.
Era ali que se cultivava, como bacilo raro em proveta cara, essa coisa que ficou definida de uma vez para sempre, quando alguém, certeira e correctamente, a baptizou de nacional-cançonetismo.
Quem eram os seus sustentáculos gargarejantes todos o sabem. Não vale a pena enumerá-los.
Estranhos a esse afável calor dos estúdios e das salas administradas pela RTP, suportando mesmo calafrios arrepiantes (e mais frequentemente do que, ainda agora, alguns pensam) havia outros que construíam a canção. Aquela que, fatalmente, tinha de vir, como veio, a rebentar a rua, pois era para a rua, isto é, para a garganta de todos e de cada um que ela tinha sido feita.
Também aqui não vou nomear ninguém. Não é preciso. Todos os seus autores e intérpretes se têm dado a conhecer publicamente através do seu próprio trabalho. Mas, entre estes dois campos, um terceiro existe, menos claro, menos definido. Enfim, na canção como no resto.
Referimo-nos àqueles que não fazendo propriamente parte da mobília da RTP de Ramiro Valadão por lá passaram vezes suficientes para deixarem o público entre o espanto e o desconfiado, quando apareceram com trabalhos que, com certeza, não teriam o aval dos antigos responsáveis pelos serviços de produção das tais invariedades, ou lá o que eram aqueles TV Clubes e quejandos.
Estamos, concretamente, a referir-nos aos discos mais recentes, e ainda anteriores a 25 de Abril, de Fernando Tordo, Carlos Mendes, Tonicha e Maria do Amparo - C. A. Moniz, que apontavam já numa direcção mais correcta que aquela que parecia que viria a ser o seu destino. De comum a todos eles está o facto de terem tido a TV na base da sua popularidade, principalmente através do festival da RTP, do qual foram uns a seguir aos outros desistindo, e, também, excepção feita a Maria do Amparo - C. A. Moniz, o terem servido poemas (e não meras letras) de Ary dos Santos e José Niza.
Quer pela popularidade que alcançaram e também pelo trabalho que fizeram com esses dois autores, este grupo de cançonetistas, que de certo modo se situa entre uns e os outros, tem certas responsabilidades perante o público, o telespectador em particular. Responsabilidades que, como já se disse, se começavam a adivinhar como conscientemente assumidas.
Mas a verdade é que, até à presente data, nada apareceu a confirmar ou a negar o que se adivinhava. E verdade também é que já não estamos no tempo de jogar às adivinhas. Nem na canção.
Uma pausa para meditar? Está bem. Pode ser salutar. Ficar entre uns e outros é que não pode ser.
Quem eram os seus sustentáculos gargarejantes todos o sabem. Não vale a pena enumerá-los.
Estranhos a esse afável calor dos estúdios e das salas administradas pela RTP, suportando mesmo calafrios arrepiantes (e mais frequentemente do que, ainda agora, alguns pensam) havia outros que construíam a canção. Aquela que, fatalmente, tinha de vir, como veio, a rebentar a rua, pois era para a rua, isto é, para a garganta de todos e de cada um que ela tinha sido feita.
Também aqui não vou nomear ninguém. Não é preciso. Todos os seus autores e intérpretes se têm dado a conhecer publicamente através do seu próprio trabalho. Mas, entre estes dois campos, um terceiro existe, menos claro, menos definido. Enfim, na canção como no resto.
Referimo-nos àqueles que não fazendo propriamente parte da mobília da RTP de Ramiro Valadão por lá passaram vezes suficientes para deixarem o público entre o espanto e o desconfiado, quando apareceram com trabalhos que, com certeza, não teriam o aval dos antigos responsáveis pelos serviços de produção das tais invariedades, ou lá o que eram aqueles TV Clubes e quejandos.
Estamos, concretamente, a referir-nos aos discos mais recentes, e ainda anteriores a 25 de Abril, de Fernando Tordo, Carlos Mendes, Tonicha e Maria do Amparo - C. A. Moniz, que apontavam já numa direcção mais correcta que aquela que parecia que viria a ser o seu destino. De comum a todos eles está o facto de terem tido a TV na base da sua popularidade, principalmente através do festival da RTP, do qual foram uns a seguir aos outros desistindo, e, também, excepção feita a Maria do Amparo - C. A. Moniz, o terem servido poemas (e não meras letras) de Ary dos Santos e José Niza.
Quer pela popularidade que alcançaram e também pelo trabalho que fizeram com esses dois autores, este grupo de cançonetistas, que de certo modo se situa entre uns e os outros, tem certas responsabilidades perante o público, o telespectador em particular. Responsabilidades que, como já se disse, se começavam a adivinhar como conscientemente assumidas.
Mas a verdade é que, até à presente data, nada apareceu a confirmar ou a negar o que se adivinhava. E verdade também é que já não estamos no tempo de jogar às adivinhas. Nem na canção.
Uma pausa para meditar? Está bem. Pode ser salutar. Ficar entre uns e outros é que não pode ser.
Tele Semana nº 88, de 27 de setembro de 1974 |
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