Em jeito de homenagem recordamos a colaboração com Tonicha.
O ano era o de 1972. Tonicha gravou um EP chamado "4 Canções de Patxi Andión", um vinil que continha, no lado A, "Puedo inventar" e "Poeta desde lejos" e, no lado B, "20 versos a mi muerte" e "Habria que saberlo".
FOTO CAPA: M. Fiuza |
Nesse mesmo ano, em Espanha, Tonicha editou o single "Poeta desde lejos"/"20 versos a mi muerte", na versão original. Ambos os discos foram editados pela Movieplay. A adaptação dos poemas para português ficou a cargo de Ary dos Santos e a direcção musical do maestro Thilo Krassman.
João Maria Viegas, marido e manager da cantora, contou-nos que Patxi, perseguido pela Pide e proibido de entrar em Portugal, tinha de vir a Lisboa às escondidas acompanhar as gravações de Tonicha.
Anos mais tarde, corria o ano de 1994, Tonicha confidenciou, no popular programa "Parabéns" da RTP apresentado por Herman José, que, uns meses após a gravação do disco, Patxi telefonou-lhe a pedir autorização para ele próprio gravar essas canções. Comentou então a cantora: "Incrível, ele que era o autor ia pedir-me autorização a mim...".
Num dos últimos concertos que Patxi Andión fez em Lisboa, no Cinema São Jorge, fomos aos bastidores e ele recebeu-nos. De forma muito simpática. Falámos-lhe deste blogue, do projecto de uma fotobiografia da cantora que estava a ser preparado e oferecemos-lhe o CD de Tonicha "Antologia 1971-1977", uma colectânea da Movieplay. Trata-se do único CD que contém uma destas 4 belíssimas canções de Patxi Andión que Tonicha gravou, "Poeta desde lejos".
Na contracapa do EP "4 Canções de Patxi Andión" (que no interior traz as letras em castelhano e em português), num texto assinado por Ary dos Santos, o poeta português referia-se a Patxi Andión desta forma:
"Pax Andion (?) é - e já muitos o têm dito - um 'caso' musical. Mas, quanto a mim, a grandeza maior desse 'caso' reside no impacto de uma força profundamente humana que quase se sente e se aprende fisicamente em todas as suas canções. Ao ouvi-las é impossível dissociarmo-nos da imagem do homem novo ibérico que, com os pés assentes na terra e os olhos virados à esperança, canta, sem dó nem piedade, o seu próprio destino. (...)".
20 versos a mi muerte
(versão: Ary dos Santos)
Ai quando eu morrer não quero
Nem coroas de cravos velhos
Nem ramos de lirios secos
Que me flagelem os dedos.
Quero que o ar se recolha
Até que o eco tropece
Quero morrer devagar
E que a vida recomece.
Eu quero morrer descalça
Metida dentro da terra
Sem uma lágrima falsa
Como se um filho tivera.
Eu quero que a terra seja
O lençol da minha vida
À morte que se deseja
Porque não é despedida.