21 de maio de 2009

TONICHA

CONJUNTO E COROS
LP, ORFEU, SB1122



Passamos agora à reedição da obra "CANÇÕES DE ABRIL" pela editora de Arnaldo Trindade, Orfeu.
Esta edição perdeu o título "CANÇÕES DE ABRIL" e ficou-se pelo "CONJUNTO E COROS". A data dos três EPs e do LP permanece 1975, mas cremos que tenham sido reeditados apenas em 1976, quando Tonicha grava para esta editora o magnífico álbum "CANTIGAS POPULARES".
Deve também ter sido nesse ano que João Viegas e Tonicha terão vendido o material da sua editora Discófilo à Orfeu. Numa obra alusiva à escrita de Jorge Palma, faz-se referência a esse LP "TONICHA - CONJUNTO E COROS" como sendo de 1976.
Acrescente-se que a foto da capa deste LP é a mesma que a usada na edição Discófilo. Trata-se de uma foto tirada em Dublin no ano de 1971, em que se vê Tonicha com uma moderna boina sobre os seus longos cabelos loiros.

FACE A
TERRAS DE GARCIA LORCA
(Letra: Ary dos Santos/Música: Nuno Nazareth Fernandes)
PAÍS IRMÃO
(Letra: Ary dos Santos/Música: Braga Santos)
O POVO EM MARCHA
(Letra: Ary dos Santos/Música: Braga Santos)
CRAVOS DA MADRUGADA
(Letra: Mário Castrim/Música: Nuno Nazareth Fernandes)
BANDEIRA DA VITÓRIA
(Letra: Mário Castrim/Música: Nuno Nazareth Fernandes)
CANTAREMOS/LUTAREMOS
(Letra: Gonçalves Preto/Música: Braga Santos)

FACE B
SONETO DO TRABALHO
(Letra: Ary dos Santos/Música: Fernando Tordo)
SOMOS LIVRES
(Letra e Música: Ermelinda Duarte)
PORTUGAL RESSUSCITADO
(Letra: Ary dos Santos/Música: Pedro Osório)
OBRIGADO SOLDADINHO
(Letra: Ary dos Santos/Música: Popular)
HINO DO TRABALHO
(Letra: António Feliciano de Castilho/Música: Shegundo Galarza)
JÁ CHEGOU A LIBERDADE
(Letra: Ary dos Santos/Música: Popular)



Devemos referir que a Discófilo tinha editado três singles e que a Ordeu dividiu as 12 canções deste LP por três EPs.
Curiosamente as capas dos EP partilham da mesma fotografia usada no álbum "CANTIGAS POPULARES", talvez o melhor álbum de sempre da nossa cantora.

FICHA TÉCNICA
ARRANJOS E DIRECÇÃO: Jorge Palma
VOZES: João Henrique, Waldemar Ramalho, Henrique Talbot, Jorge Palma, Tonicha, Fernando Tordo

TERRAS DE GARCIA LORCA
EP, ORFEU, ATEP 6695



O tema "Cravos da madrugada", que surge na lado B deste EP, foi uma criação para a revista "Ó pá pega na vassoura" de 1974, com José Viana, Dora Leal e Leónia Mendes, entre outros, que esteve em cena no Teatro Variedades no Parque Mayer. Pela altura do lançamento das "CANÇÕES DE ABRIL", o tema foi repescado para ser gravado por Tonicha e incluído no alinhamento do álbum.

FACE A
TERRAS DE GARCIA LORCA
(Letra: Ary dos Santos/Música: Nuno Nazareth Fernandes)
PAÍS IRMÃO
(Letra: Ary dos Santos/Música: Braga Santos)

FACE B
O POVO EM MARCHA
(Letra: Ary dos Santos/Música: Braga Santos)
CRAVOS DA MADRUGADA
(Letra: Mário Castrim/Música: Nuno Nazareth Fernandes)



CANTAREMOS/LUTAREMOS
EP, ORFEU, ATEP 6696



O segundo EP, para além do tema "Cantaremos/Lutaremos" que já aqui demos conta, inclui um poema de António Feliciano de Castilho, poeta do séc. XIX (1800-1875), um belíssimo texto de louvor ao trabalho: "Hino do Trabalho".

FACE A
CANTAREMOS/LUTAREMOS
(Letra: Gonçalves Preto/Música: Braga Santos)
BANDEIRA DA VITÓRIA
(Letra: Mário Castrim/Música: Nuno Nazareth Fernandes)

FACE B
SOMOS LIVRES
(Letra e Música: Ermelinda Duarte)
HINO DO TRABALHO
(Letra: António Feliciano de Castilho/Música: Shegundo Galarza)



HINO DO TRABALHO
(Letra: António Feliciano de Castilho/Música: Shegundo Galarza)

Trabalhar meus irmãos que o trabalho
É riqueza é virtude é vigor
Dentre orquestra da serra e do malho
Brotam vida cidades amor.

No regaço de luxo a opulência
Os cansaços do ócio maldiz
Entre as lidas sorri a indigência
Com pão negro se julga feliz.

Deus incombe ao pecado fadiga
Até na pena sorri o paternal
O que vence a preguiça inimiga
Reconquista o Éden terreal.

Trabalhar meus irmãos que o trabalho
É riqueza é virtude é vigor
Dentre orquestra da serra e do malho
Brotam vida cidades amor.

Cai opróbrio no vil ocioso
Que deserda o presente e o provir
Só à noite compete o repouso
Só aos mortos o eterno dormir.

Mar e terra ar e céu tudo lida
Deus a todos pôs nus e deu mãos
Lei suprema o trabalho é na vida
Trabalhar trabalhar meus irmãos.

SONETO DO TRABALHO
EP, ORFEU, ATEP 6697



FACE A
SONETO DO TRABALHO
(Letra: Ary dos Santos/Música: Fernando Tordo)
JÁ CHEGOU A LIBERDADE
(Letra: Ary dos Santos/Música: Popular)

FACE B
PORTUGAL RESSUSCITADO
(Letra: Ary dos Santos/Música: Pedro Osório)
OBRIGADO SOLDADINHO
(Letra: Ary dos Santos/Música: Popular)



SONETO DO TRABALHO
(Letra: Ary dos Santos/Música: Fernando Tordo)

Das prensas dos martelos das bigornas
Das foices dos arados das charruas
Das alfaias dos cascos e das dornas
É que nasce a canção que anda nas ruas.

Um povo não é livre em águas mornas
Não se abre a liberdade com gazuas
À força do teu braço é que transformas
As fábricas e as terras que são tuas.

Abre os olhos e vê. Sê vigilante
A reacção não passará diante
Do teu punho fechado contra o medo.

Levanta-te meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
Pois quando o povo acorda é sempre cedo.

11 de maio de 2009

CANÇÕES DE ABRIL

TONICHA CONJUNTO E COROS
LP, DISCÓFILO 2003/L



Chegamos por fim ao LP do qual foram editados os singles apresentados anteriormente. Sabemos que muitos dos nossos leitores esperavam há muito pela apresentação deste LP de 1975, editado primeiramente pela Discófilo e, posteriormente, pela Orfeu, com o título "TONICHA CONJUNTO E COROS".

CRAVOS DA MADRUGADA
(Mário Castrim - Nuno Nazareth Fernandes)

Quando o povo ergueu a sua voz
Para deixar de ser escravo
O sol nasceu e brilhou para nós
E tinha a forma de um cravo.

Era ainda madrugada
E já um cravo dizia
Que na ponta da espingarda
Era tempo de ser dia.

REFRÃO (2x)
Eram cravos cravos cravos
Eram cravos mais de mil
Eram punhos levantados
Do povo no mês de Abril.

O cravo exigiu salário
Para se tornar português
Alex deu sangue operário
Catarina o camponês.

Aperta um cravo na mão
Carne viva cravo novo
Defende-o bem, capitão
Defende-o capitão-povo.

É realmente um disco histórico!
As letras ajudam-nos a compreender melhor aqueles dois primeiros anos de liberdade.
A música ligeira espelha bem a temperatura da época. E sabemos que o Verão de 1975 foi bem quente.

FACE A
TERRAS DE GARCIA LORCA
(Ary dos Santos - Nuno Nazareth Fernandes)
PAÍS IRMÃO
(Ary dos Santos - Braga Santos)
O POVO EM MARCHA
(Ary dos Santos - Braga Santos)
CRAVOS DA MADRUGADA
(Mário Castrim - Nuno Nazareth Fernandes)
BANDEIRA DA VITÓRIA
(Mário Castrim - Nuno Nazareth Fernandes)
CANTAREMOS/LUTAREMOS
(Gonçalves Preto - Braga Santos)

FACE B
SONETO DO TRABALHO
(Ary dos Santos - Fernando Tordo)
SOMOS LIVRES
(Ermelinda Duarte)
PORTUGAL RESSUSCITADO
(Ary dos Santos - Pedro Osório)
OBRIGADO SOLDADINHO
(Ary dos Santos - Popular)
HINO DO TRABALHO
(António Feliciano de Castilho - Shegundo Galarza)
JÁ CHEGOU A LIBERDADE
(Ary dos Santos - Popular)

Há, neste disco, uma curiosa junção de autores.
Além dos óbvios Ary dos Santos e Nuno Nazareth Fernandes, aparecem o temido crítico de televisão Mário Castrim (recentemente falecido), Braga Santos, compositor de canções de revista, Pedro OSório, Shegundo Galarza e Ermelinda Duarte.

BANDEIRA DA VITÓRIA
(Mário Castrim - Nuno Nazareth Fernandes)

Anos e anos fomos presos fomos vítimas
Anos e anos nos calcaram sem perdão
Anos e anos nossos gritos nossas lágrimas
Deram à luta mais raízes pelo chão.

Mas tudo isso já lá vai tudo já passou
A nossa alma é uma bandeira do porvir
Neste país que amanheceu em cada um de nós
Para todos nós há um país a construir.

REFÃO
Não basta o mês de Abril pôr cravo na lapela
Agora estás aqui vais estar de sentinela
O que tanto custou não se pode perder
Trabalho e vigilância são armas de trazer.
Trabalho e vigilância são armas para vencer.

Tonicha volta a entoar a melodia do "Vira dos malmequeres", desta vez com um texto de Ary dos Santos, de homenagem aos soldados de Abril: "Obrigado soldadinho".
Outra melodia já antes gravada por Tonicha é a que serve de base para a última canção do disco, "Já chegou a liberdade". No tempo da RCA foi uma das canções do EP "ALENTEJO": "Maria Rita".
Destaquemos também o poema de António Feliciano de Castilho (séc. XIX): "Hino do Trabalho"



O POVO EM MARCHA
(Ary dos Santos - Braga Santos)

Vou ver passar
A marcha sem arquinhos nem balões
Ao pé do mar
Vermelha como os nossos corações.

Vou ver chegar
Os santos que não são os dos altares
E vou saltar
Fogueiras de vitórias populares.

REFRÃO (2x)
Lá vai lá vai
A malta proletária de Lisboa
Cantai lutai
Pois quem não lutar assim não marcha à toa.

Vou ver brilhar
A lua das esperanças encontradas
E vou cantar
Lisboa das vielas libertadas.

Vou ver vibrar
Bandeiras ondulantes e encarnadas
E vou dançar
De braço dado com os camaradas.

FICHA TÉCNICA
ARRANJOS E DIRECÇÃO: Jorge Palma
PIANO: Jorge Palma
VIOLAS: Mike Sergeant
BAIXO: Luís Duarte
BATERIA E PERCUSÃO: Victor Mamede
TROMPETES: Francisco Toneco, Armindo Toneco
TROMBONES: Amancio F. Costa, António M. Jubilot
FLAUTAS: Carlos A. França, João Oliver
VIOLA: Oliveira e Silva
CELLO: Maria de Lurdes
VOZES: João Henriques, Waldemar Ramalho,
Henrique Tabot, Jorge Palma, Tonicha, Fernando Tordo
ESTÚDIOS: Musicorde
PRODUÇÃO E EDIÇÃO: Discófilo

6 de maio de 2009

O POVO EM MARCHA

CRAVOS DA MADRUGADA
SINGLE, DISCÓFILO 1001/S



A propósito do lançamento deste single, escreveu BERNARDO SANTARENO, o grande dramaturgo contemporâneo português:

"Neste disco Tonicha canta dois belos poemas de Ary dos Santos e de Mário Castrim. Dois poemas que estão com (e dentro) da Revolução. Revolução em que eles e eu acreditamos.
O poema de Ary dá as palavras para uma marcha - a marcha nova do Povo Português - em que se pretende (e consegue) desfazer em farrapos a imagem estereotipada e falsa "para estrangeiro ouvir e ver", que o antigo S.N.I. dava do povo dos bairros de Lisboa.
No poema de Castrim corre a seiva revolucionária, obstinada e interveniente.
Estas duas canções valem dois gritos de esperança, de força, de confiança no destino do nosso Povo.
Cantados por Tonicha, a "menina" querida da canção portuguesa, estes poemas ganham um acento de pureza, de frescura, de ingenuidade popular, de vibração espontânea, que muitos valorizam.
Tonicha encontrou o seu caminho, o único: intérprete do Povo e para o Povo, artista-camarada, voz ao serviço da justiça social."


FACE A
O POVO EM MARCHA
(Letra: J. C. Ary dos Santos)
(Música: Braga Santos)


FACE B
CRAVOS DA MADRUGADA
(Letra: Mário Castrim)
(Música: Nuno Nazareth Fernandes)




Este foi o primeiro single a ser extraído do LP "CANÇÕES DE ABRIL" editado pela etiqueta Discófilo no ano de 1975. O disco contém na contracapa este belo texto de Bernardo Santareno, escritor que Tonicha conheceu e recorda como uma pessoa muito inteligente e extraordinária.

FICHA TÉCNICA
ARRANJOS: Jorge Palma
ESTÚDIO: Musicorde
TÉCNICO: Alberto Nunes
FOTO: Carlos Gil
CAPA: Nuno Nazareth Fernandes
EXECUÇÃO: Gráfica Monumental
PRODUÇÃO E EDIÇÃO: Discófilo

4 de maio de 2009

TERRAS DE GARCIA LORCA

PAÍS IRMÃO
SINGLE, DISCÓFILO 1004/S



Mais um disco que festeja Abril.
É um single editado pela Discófilo (propriedade de Tonicha, João Viegas e Ary dos Santos) em 1975.
O vinil de 45 rotações apresenta duas canções cujas letras são da autoria de José Carlos Ary dos Santos. Os arranjos dos dois temas ficaram a cargo de Jorge Palma.
A capa é da responsabilidade de Wladimiro Bas (Madrid).

TERRAS DE GARCIA LORCA
(Ary dos Santos/Nuno Nazareth Fernandes)

Garras de Garcia Lorca
Cravadas no sul de Espanha
Fincadas na carne morta
De uma guerra sem entranhas.

Rosas de sal
Estoirando pólvora negra
Rosas sem sol
Parindo filhos de pedra.

Heróis do pão de sicuta
Bebendo limões de vinho
Sangria de mágoa e luta
Derramada no caminho.

Trevas de Garcia Lorca
Gravadas no sol de Espanha
Farpas que levam à forca
Toiros de raças estranhas.

Ossos ao sol
Nas crateras de Toledo
Facas de sal
Abrindo chagas no medo.

Nascemos sempre de novo
Morremos sempre de perto
Eis o poema de um povo
Que luta por ser liberto.

É contra a guarda civil
Que levantamos o braço
Em Espanha espera-se Abril
Desenhado por Picasso.

Pombas voando
Por terras de Andaluzia
Cravos chegando
Para Federico Garcia.

Nascemos sempre de novo
Morremos sempre de perto
Eis o poema de um povo
Que luta por ser liberto.

O tema "Terras de Garcia Lorca" foi reeditado em cd na compilação da série o "MELHOR DOS MELHORES" (Movieplay, 1994), da qual ainda há pouco tempo comprámos um exemplar numa discoteca da Rua Augusta, e na "ANTOLOGIA 1971-1977" (Movieplay, 2004), ainda disponível nas discotecas.
Oiçam o tema pois vale bem a pena saborear a voz da Tonicha e a riqueza poética que Ary dedicou ao povo "nuestro hermano" que entrou na democracia mais tarde que nós.

LADO A
TERRAS DE GARCIA LORCA
(Letra: Ary dos Santos)
(Música: Nuno Nazareth Fernandes)

LADO B
PAÍS IRMÃO
(Letra: Ary dos Santos)
(Música: Braga Santos)




PAÍS IRMÃO
(Ary dos Santos - Braga Santos)

Canto na raia de Espanha
Serei sempre portuguesa
Vento que venha de Espanha
Não me apanha com certeza.

Vejo dançar as espanholas
Entre o medo e a verdade
Eu não trago castanholas
Mas já canto a liberdade.

REFRÃO
Canta comigo amigo
E dança comigo irmão
As fronteiras do trigo
Não são as mesmas do que as do pão.

Ai Portugal dizemos não.

Canto na terra descalça
Cá não temos os preciados
E mais vale andar descalça
Do que de pés mal calçados.

Eu tenho um par de sandálias
À medida do meu pé
São abertas como dálias
Por isso canto de pé.

REFRÃO
Canta comigo amigo
E dança comigo irmão
As fronteiras do trigo
Não são as mesmas do que as do pão.

Vamos todos ter sapatos
Com tacão sempre mais alto
Se formos dois irmãos juntos
Havemos de cantar de alto.