18 de setembro de 2008

UMA TARDE COM TONICHA

1984 - Foto para o single "Pinga Amor"
Na sexta feira passada, rumámos para o sul em direcção a Serpa para assistirmos ao espectáculo de "Tonicha e venham mais cinco alentejanos". Tonicha estava muito bem disposta e feliz por cantar para gente do seu Alentejo que conhecia bem o repertório e a foi acompanhando em coro. Temos algumas fotos que mostraremos noutra oportunidade.
Depois de uma noite bem dormida num hotel muito acolhedor em Serpa, de um pequeno almoço à beira da piscina e de um frugal almoço numa esplanada da praça central, fomos directos a Beja, onde Tonicha e o seu marido, João Maria Viegas, nos esperavam em sua casa para uma conversa. Braços abertos, simpatia, sorrisos e boa disposição acompanharam-nos pela tarde dentro e prolongaram-se até ao jantar. Desfiaram-se memórias, recordou-se o Portugal de várias décadas, contaram-se inúmeras viagens, lembraram-se amigos, falou-se de poetas e de músicos: tudo para aprendermos mais sobre a carreira de Tonicha.
Universidade de Providence - Boston Nos anos 70, Tonicha foi convidada por um professor de Cultura e Literatura Portuguesas da Universidade de Providence para cantar num evento ali organizado. AS FOTOGRAFIAS, OS DISCOS...
Com a mesma simpatia com que nos abriu as portas de sua casa, João Viegas partilhou connosco o arquivo sobre Tonicha que foi construindo ao longo dos anos. Os recortes de jornais e as capas de revistas, as fotografias que nunca antes tínhamos visto, a colecção de discos, a tudo tivemos acesso. As fotografias que estamos agora a publicar foram-nos oferecidas pelo casal. Se já admirávamos Tonicha, agora também ficámos a admirar João Viegas.
1972 - Rio de Janeiro, com Elis Regina
Nesta foto, Tonicha aparece retratada junto com uma das maiores figuras de sempre da música brasileira, Elis Regina que a vida levou cedo demais, e que Tonicha muito admira.
Foi no ano de 1972 que Tonicha esteve no Brasil para cantar o tema "MANHÃ CLARA" no VI Festival do Rio de Janeiro. A letra, escrita por José Carlos Ary dos Santos, fez muito sucesso por se revelar uma metáfora da liberdade num tempo em que o Brasil vivia uma forte ditadura. A prestação de Tonicha nesse Festival valeu-lhe o Prémio da Crítica. Curiosamente o prémio foi-lhe entregue pelas mãos de outra grande senhora da canção: Shirley Bassey.
MANHÃ CLARA (Letra: Ary dos Santos/Música: Nuno Nazareth Fernandes) Em ti vou nascendo Por ti vou morrendo Meu amor distante Quase anoitecendo Sempre acontecendo. Por ti vou ficando Em mim vou partindo Meu amor bastante Que vou descobrindo Chegando e partindo. REFRÃO: Por ti vou inventar A manhã clara De outras raízes De outras verdades De outros países De outras cidades De homens felizes. Vou renegar As coisas fáceis As coisas vãs As coisas fúteis. E nunca mais E nunca mais Essas manhãs Serão inúteis Essas cidades Serão vazias Essas verdades Ficarão frias Essas janelas Serão fechadas. E nunca mais E nunca mais As nossas bocas Amordaçadas. Por ti vou cantando Em mim vou dizendo Que nunca sei quando Por ti vou sofrendo E em mim vou crescendo. REFRÃO. 1996 - Foto: Jorge Nogueira, álbum "Canções d'Aquém e d'Além Tejo"
Perguntámos a Tonicha se o génio de Ary era mesmo como nós pensávamos. A cantora respondeu afirmativamente - disse que ele tinha um enorme talento. Contou-nos como o poeta tinha escrito a "MENINA", num serão, sentado à sua frente, olhando para ela. Falou-nos também da recepção que teve na sua chegada de Dublin - a multidão que se juntou entre o aeroporto e o Teatro Villaret, onde deu uma conferência de imprensa.
Fizemos muitas mais perguntas. As respostas ensinaram-nos muito sobre a vida e o percurso artístico de Tonicha: a insistência do marido para gravar folclore; o "RESINEIRO", gravação aconselhada por José Afonso - e o êxito estrondoso que obteve; o convite para ir para Espanha depois do êxito da "MENINA"; as recepções e os shows em Madrid e em Barcelona; o tema "SIMPLESMENTE MARIA" que o maestro Augusto Algueró exigiu que fosse interpretado por Tonicha (numa versão de Ary dos Santos); a grandiosidade do Pátio de Almeirim; os prémios da imprensa, entre os quais o do álbum "FOLIADA PORTUGUESA", de 1983 (do qual nos ofereceram um exemplar para a nossa colecção); o concerto na Mealhada organizado pela RDP Internacional, a que nós assistimos, nos anos 90, aquando do "REGRESSO" (1993, Polygram) e os muitos espectáculos que Tonicha voltou a fazer.
1993 - Foto: Vasconcellos e Sá para o álbum "Regresso"
A conversa continuou sempre muito animada. Abordámos a importância das orquestrações feitas por Jorge Palma nos anos 70 e a qualidade desta nova canção que ele lhe compôs agora - "MENINO/RAPAZ"; os outros dois temas novos do Cd "CANTOS DA VIDA", da autoria de José Fanha/Paulo de Carvalho e de Gonçalves Crespo/José Marinho; os outros temas inéditos que lhe compuseram e que ainda não foram gravados - de Tozé Brito, de José Jorge Letria, de Paulo de Carvalho e Joaquim Pessoa. Falou-se do LP "AS DUAS FACES DE TONICHA", uma edição Zip Zip cujo grafismo nos fez lembrar o LP "ELA POR ELA", apesar de terem autores diferentes. Recordaram-se também os penteados da cantora, pelas mãos do Victor Hugo, sobretudo os do Festival de 1978. Tonicha falou-nos ainda com carinho de um retrato seu, pendurado numa parede da sala, que foi pintado por José Manuel Costa Reis...
1971 - Festival Eurovisão da Canção, Dublin
A grande surpresa aconteceu quando, ao perguntarmos pelo vestido que Tonicha levou ao Festival Eurovisão da Canção quando cantou o tema "MENINA", Tonicha saiu da sala para regressar com o vestido... Grandes emoções!
in Correio da Manhã

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