14 de junho de 2008

TONICHA: MULHER

MULHER
CD, POLYGRAM, 537243-2



Em 1997, Tonicha regressa às grandes canções de amor com um repertório muito cuidado quer na escolha dos poemas, quer na música e nos arranjos musicais.
Há poemas de José Gomes Ferreira, Raúl de Carvalho, Ary dos Santos, Joaquim Pessoa e António Botto. Há duas versões de canções estrangeiras: "Que mulher é esta" de Bryan Adams e "Dias de arco-íris" de Di Bari. Há ainda uma bonita homenagem em forma de canção, de Tozé Brito e António Pinho, à carreira de Tonicha: "O meu caminho".
Todas as fotografias presentes no álbum são da autoria de Jorge Nogueira.

Na contracapa do CD encontram-se as seguintes palavras de Baptista-Bastos:

A Piaf afirmava que a arte de cantar (ela dizia, de uma forma mais rigorosa: "cançonetar") tinha como matriz "um pungente apelo interior". Tonicha pertence a essa estirpe de gente que canta aqueles que nos cantaram, servindo-se de uma voz pessoalíssima e absolutamente intransmissível. Digo: inimitável. Ela possui o tal registo interior que confere aos poemas escolhidos a dimensão do tempo, a marca de uma época e o timbre de uma personalidade. Personalidade, isso mesmo. Até porque Tonicha sabe, como poucos cantores portugueses, que cantar é amar o outro; os outros. E dizer-lhes que, apesar de tudo, ainda vale a pena acreditar. Porque não há conquista sem luta nem luta sem sofrimento.
Convido-os a escutar este disco, afinal a veemência de uma declaração de amor ao outro, aos outros-a todos nós.
Baptista-Bastos in MULHER, Polygram, 1997


POEMA DE AMOR
(António Botto / Arranjo: Luís Pedro Fonseca)

Quem é que abraça o meu corpo
na penumbra do meu leito?
quem é que beija o meu rosto
quem é que morde o meu peito.

Quem é que fala da morte
docemente ao meu ouvido?
és tu senhor dos meus olhos
e sempre do meu sentido.

De saudades vou morrendo
e na morte vou pensando.
Meu amor porque partiste
sem me dizer até quando?

Na minha boca tão triste
ó alegrias, cantai
mas quem acode ao que eu digo
- Enchei-vos de água, meus olhos
enchei-vos de água, chorai.



CAVALO DE PALAVRAS
(Ary dos Santos/Joaquim Pessoa/Carlos Mendes)

Dos seixos destas mãos
Prenhes de mágoas
Dos freixos que dobravam a cintura
Dos olhos que já trouxe rasos de água
Eu fiz o meu ribeiro de ternura.

E das palavras ditas em segredo
Das coisas ciciadas pelo vento
Da minha imensa luta contra o medo
Eu fiz o meu caudal de sofrimento.

Cavalo de palavras quem me agarra
Quem aparta de mim esta saudade
Quem faz da minha voz uma guitarra
Tocada pelos dedos da verdade.

Quem é que põe a flor da madressilva
Na louca trepadeira dos meus braços
Quem pode desbravar a minha selva
De angústias e tormentos e cansaços.

E quem terá a cor da buganvília
Espreitando pelos olhos da janela
Quem pode ser a sombra de uma tília
Cheirando a alfazema e a canela.

Só tu que eu inventei mas não existes
Só tu que não sei bem se não és eu
E alegras os momentos que são tristes
E deitas o teu corpo sobre o meu.

O MEU CAMINHO
(Tozé Brito / António Pinho)

Essa voz lá de longe da minha terra
O chão que eu senti na ponta dos dedos
Contaram-me histórias
Que trazem memórias
De velhos segredos.

Esse aroma lá do sul daquele monte
A luz que vibrava e deixava um rumor
Nas arcas antigas
Papoilas em espigas
Cantigas de amor.

Fiz o meu caminho
Fui como um barquinho
Pelo mar de prata
Corpo miudinho
Alma de fragata
Fiz o meu caminho.

Fiz o meu caminho
Fui como andorinho
Pelo mundo fora
Voltarei ao ninho
Em chegando a hora.

Faço o meu caminho.

Essa Mãe toda toda oiro do trigo e do Sol
O vento a cantar na veia d'água a correr
Mulher e menina
Foi a minha sina
Meu jeito de ser.

Esse aroma lá do sul daquele monte
A luz que vibrava e deixava um rumor
Nas arcas antigas
Papoilas em espigas
Cantigas de amor.

Fiz o meu caminho
Fui como um barquinho
Pelo mundo fora
Voltarei ao ninho.

Em chegando a hora
Faço o meu caminho.



AO MENOS UMA VEZ
(Letra e música: Pedro Barroso)

Abrir a porta que dá para o rio defronte
morder um malmequer azedo p'lo caminho
regressar de ouvido ao som que estava ausente
sentir o sol na cara e o cheiro a rosmaninho
e às vezes uma ortiga
às vezes uma rosa
e às vezes uma amora
que eu mordo com saudade
estamos sempre a tempo de sermos nesta vida
ao menos uma vez
gente de verdade.

Soltar na noite aberta a fantasia
viver o sonho como quem se aquece
ao fogo de um cuidado, ao fogo de um carinho
tecer em linho puro a vida que acontece
e às vezes uma ideia,
às vezes um poema,
às vezes um olhar
que vai valer a pena
estamos sempre a tempo
de ainda descobrir
ao menos uma vez
um gesto por sentir
depois ficam amigos às vezes até tarde
quando passa o carteiro a gente diz - Bom dia!
ser português assim se querem a verdade
é nascer uma menina e os pais porem: Maria...
e às vezes encontrar
razões p'ra lá de nós
e às vasculhar
na arca dos avós
estamos sempre a tempo
de sermos nesta vida
ao menos uma vez
gente conseguida.



TERRA MÃE
(Raúl de Carvalho / Arranjo: Luís Pedro Fonseca)

Lá nos campos, tristes campos
Dos campos do Alentejo
Vim ainda pequenina
- E pequenina me vejo...

Lá nos campos, tristes campos
Da solitária planura
Nasceu a minha revolta
Nasceu a minha amargura.

Lá nos campos, tristes campos
Vem a lembrança de tudo
O que mais amo e desejo.
Vem a fome a sede e o sonho
Das terras do Alentejo.



Ó PASTOR QUE CHORAS
(José Gomes Ferreira/José Almada)

Ó pastor que choras
O teu rebanho onde está
Deita as mágoas fora
Carneiros é o que mais há

Uns de finos modos
Outros vis por desprazer
Mas carneiros todos
Com cargo de obedecer

Quem te pôs na orelha
Essas cerejas, pastor
São de cor vermelha
Vai pintá-las doutra cor

Vai pintar os frutos
As amoras e os rosais
Vai pintar de luto
As papoilas e os trigais.

QUE MULHER É ESTA
(J. Fanha/B. Adams/R. J. Lange/ N. Kamen)
Ó PASTOR QUE CHORAS
(José Gomes Ferreira/José Almada)
NA PEDRA DO TEU ANEL
(António Pinho/Carlos A. Vidal)
AO MENOS UMA VEZ
(Pedro Barroso)
FOLHINHA VERDE
(António A. Pinto/Carlos A. Vidal)
TERRA MÃE
(Raul de Carvalho/Luís Pedro Fonseca)
CAVALO DE PALAVRAS
(Ary dos Santos/Joaquim Pessoa/Carlos Mendes)
O NOSSO MENINO
(António A. Pinho/Carlos A. Vidal)
POEMA DE AMOR
(António Botto/Luís Pedro Fonseca)
DIAS DE ARCO-ÍRIS
(António J. L. Lampreia/Masini/Pintacci/Di Bari)
AVÉ MARIA
(Luís Pedro Fonseca/Schubert)
O MEU CAMINHO
(António A. Pinho/ Tozé Brito)

Sem comentários: