27 de fevereiro de 2021

Tonicha por Maria Teresa Horta

 Maria Teresa Horta, figura ímpar das letras portuguesas, e que ganhou recentemente mais um prestigiado prémio literário, também escreveu sobre o VIII Grande Prémio TV da Canção -1971:

"Mais um Festival da Canção... por sinal até o melhor de todos. Pelo menos, três poemas de José Carlos Ary dos Santos é já uma garantia de qualidade a que estamos pouco habituados. Habituados estamos, infelizmente, às manifestações pouco educadas do nosso público... Mas a pateada de ontem, mais do que má educação, foi índice bem grave de ignorância: mais do que "falta de chá", foi bem significativo a determinar uma certa mentalidade... - José Carlos Ary dos Santos, ao subir ao palco, estava a ser vaiado... e é então que dá vontade de perguntar: mas afinal vale a pena? E é então que nos lembramos do ditado: "dar pérolas a porcos"...
O público queria Paulo de Carvalho. (...)
Porém, que maravilhosos foi ouvir "Cavalo à Solta"! (...)
Ganhou, porém, a "Menina", canção mais simples e capaz de ser imediatamente apreendida por um público mais vasto. Neste poema, José Carlos Ary dos Santos teve sobretudo a exigência da frescura, da transparência, da simplicidade, de gesto ainda impreciso e doce, de orvalho ou da terra: teve como que a exigência de uma ténue pele de mulher...
Se Ary dos Santos quis dar tudo isto, conseguiu: "Menina" é uma bonita canção que Tonicha (muito mais loura quando a canta) aprenderá a interpretar com maior rigor, à medida que melhor a vá sentindo no corpo, na boca, nos sentidos: subtil, roçagante, breve, um pouco secreta até, com algo e indeciso na textura, no tacto, no sorriso. - Depois de "Cavalo à Solta", a melhor canção é pois esta "Menina" - "com tranças de madrugada" -, feita de simplicidade e transparência. (...)"
Maria Teresa Horta, in Mundo da Canção.
Caricatura:
J. Rosa, in Restaurante Solar dos Presuntos, Lisboa.

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