8 de novembro de 2010

TONICHA: SEMPRE CANTEI PARA O POVO

Cantora estreia-se no teatro pela mão de Tiago Torres da Silva.


Foto: Tiago Sousa Dias

É conhecida como cantora, mas agora vai estrear-se no teatro. Ainda a recuperar de graves problemas de saúde, a popular Tonicha vai ser uma das protagonistas de ‘Vozes de Trabalho’, espectáculo que tem estreia prevista para 25 de Novembro, na Sala Principal do Teatro da Trindade. Ao seu lado, estarão Lourdes Norberto, Carlos Mendes e Filipa Pais, entre outros.

Por: Ana Maria Pais, in Correio da Manhã, 8 Nov.2010



CM - Ficou surpreendida com o convite do Tiago Torres da Silva?

Tonicha - Sim. A primeira vez que ele me falou disto eu estava de cadeira de rodas e disse-lhe que ia pensar. Estive afastada da vida artística durante ano e meio e nesse tempo aconteceram imensas coisas... Coisas desagradáveis. A certa altura já nem tinha vontade de nada. Mais tarde, o Tiago fez-me o convite formal e apesar de não estar em condições de aceitar, aceitei. Achei que podia ser terapêutico. E tem sido.

- É a sua estreia como actriz de teatro. Isso não a assusta?
- Admito que é uma grande aventura, mas estou a fazer tudo para que me sair bem dela. Para já porque não quero desiludir o Tiago, a quem conheço desde miúdo, quando ia visitar a avó, que era minha vizinha em Cascais. Depois, porque o ambiente é tão interessante e os colegas são tão talentosos, que não quero ficar mal na fotografia.

- A peça fala da vida do povo trabalhador e das canções a que recorre como forma de tornar a sua vida mais agradável...
- Sim, é uma realidade que me é muito familiar. Eu conheço o povo. Sempre cantei para o povo, fiz muito trabalho de estrada, festas, arraiais, romarias - estive lá sempre e portanto conheço bem esta realidade. Isso facilitou o processo, sem dúvida.

- O facto de ser um musical também deve ter ajudado...
- Sim, é uma produção muito interessante, que liga a arte de representar e a de cantar. Nunca me tinha acontecido nada de parecido. Aqui todos cantam e todos representam. Claro que nem todos têm solos, mas há canções colectivas em que todos participam. Para mim, o pior é decorar o texto. Tem de ser devagar... (risos) Mas quando estrear vai tudo estar certinho.

- A nível de representação, chegou a fazer cinema...
- Fiz um filme, mas muito novinha. Tinha 16 anos. Era inconsciente. Mas foi um convite irrecusável: em início de carreira, convidarem-me para fazer um filme ao lado do António Silva! Fiquei encantada. Claro que não podia recusar.

- Fale-nos da sua personagem no espectáculo.
- A minha personagem é a ‘Ti Ana', uma velhinha que todos julgam já ter desaparecido, mas que, afinal, está mesmo viva! E rija. A peça é muito divertida, tem momentos ternurentos, outros tristes - afinal estamos a falar de coisas que acontecem às pessoas que trabalham no campo. Mas depois tem a alegria da música, acho que é um espectáculo completo.

- O público, que nunca lhe falhou, também não é desta que vai falhar...
- Espero que não. Mas é verdade. Tenho essa noção: o público das cantigas nunca me abandonou, e acho que virá com certeza ao espectáculo. O público de teatro, esse, não sei. Mas acho que sim. Nem que seja por curiosidade.

- Pondera a possibilidade de voltar ao teatro?
- Se a peça tiver êxito... Enfim, não sou uma actriz mas acho que tenho um certo jeitinho.

- O Ruy de Carvalho diz que um artista nunca se reforma.
- Depende. Para um cantor, isso não será tão verdade. A voz muda, os tons agudos têm de vir para baixo. Mas acho que um actor pode continuar a sua carreira sempre. Até os problemas de memória podem ser obviados actualmente. Mas eu ainda não tenho problemas com a voz. Os meus problemas são todos de saúde. Mas vou ultrapassá-los. Ainda não estou bem, mas hei-de estar.

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