14 de junho de 2008

TONICHA: MINHA MÃE, MINHA MÃE

CANTIGAS POPULARES

CANTIGAS POPULARES, de 1976, é o resultado de, talvez, uma das mais interessantes parcerias da música portuguesa, esta que uniu Tonicha ao então ainda pouco conhecido Jorge Palma que, já em meados dos idos anos 70, com a Direcção Musical do álbum da cantora alentejana indiciava o talento e a mestria na arte da música que hoje se lhe (re)conhece.



Tonicha regressa ao folclore com uma nova série de discos dedicados às cantigas do nosso país. O álbum "CANTIGAS POPULARES" (da Orfeu/Arnaldo Trindade e Cª), com arranjos e uma brilhante Direcção Musical de Jorge Palma, com produção e selecção musical de João Viegas, é editado no ano de 1976.

Deste álbum foram lançados os EP seguintes:

CANTIGAS POPULARES 1
EP, ORFEU, ATEP 6698



MINHA MÃE, MINHA MÃE
(Popular/Arranjo e Direcção Musical: Jorge Palma)

Minha mãe, minha mãe
ó minha mãe minha amada
quem tem uma mãe tem tudo
quem não tem mãe não tem nada.

Eu cheguei e embarquei no comboio
que soprava pela linha
e ás vezes penso comigo e digo:
- Triste sorte que é a minha.

Depois de chegar ao Barreiro
embarquei no vapor que passa o Tejo
Chora por mim, que eu choro por ti
Já deixei o Alentejo.
Chora por mim, que eu choro por ti
Já deixei o Alentejo.

Minha mãe, minha mãe
por Deus não me peça nada
Vale-me Tu nesta hora
que eu p'ra aqui estou desprezada.



ENTRUDO
(Popular/Arranjo e Direcção Musical: Jorge Palma)

Ó entrudo, ó entrudo
ó entrudo chocalheiro
que não deixas assentar
as mocinhas ao soalheiro.

Eu quero ir para o monte
eu quero ir para o monte
que no monte é que estou bem
que no monte é que estou bem.

Eu quero ir para o monte
eu quero ir para o monte
onde não veja ninguém
que no monte é que estou bem.

Estas casas são caiadas
estas casas são caiadas
quem seria a caiadeira
quem seria a caiadeira.

Foi o noivo mais a noiva
foi o noivo mais a noiva
com um ramo de laranjeira
quem seria a caiadeira.

CANTIGAS POPULARES 2
EP, ORFEU, ATEP 6699



ROSEIRA BRAVA
(A. Ferreira Guedes/José Niza)

Roseira brava, roseira
Barco sem leme nem remos
Roseira brava é a vida
Que amargamente vivemos.

Roseira brava não tem
Rosas abertas nos ramos
Roseira brava é espinho
Que em nosso peito cravamos.

Roseira brava, roseira
Rosa em botão desfolhada
Roseira brava é teu rosto
Rompendo da madrugada.

Roseira brava no vento
Vai espalhando a semente
Roseira brava é lembrar
Quem se não lembra da gente.

Roseira brava, roseira
Que o sol de Verão não aquece
Roseira brava é o amor
A quem amor não merece.

Roseira brava é o ódio
Que vai minando a raiz
Roseira brava, roseira
Roseira do meu país.

Roseira brava é o ódio
Roseira do meu país.



CHARAMBA
(Letra e música: Popular - Ilha Terceira)
(Arranjo e Direcção Musical: Jorge Palma)

Das modas da minha terra, da minha terra
A Charamba é a primeira.
Das modas da minha terra, da minha terra
A Charamba é a primeira.

Vou começar por cantá-la, ai por cantá-la
Lembrando a Ilha Terceira.
Vou começar por cantá-la, ai por cantá-la
Lembrando a Ilha Terceira

Boas noites meus senhores, senhoras e belas flores
Que aqui estais neste salão.
Boas noites meus senhores, senhoras e belas flores
Que aqui estais neste salão.

Para vós eu vou cantar, e a todos quero saudar
Do fundo do coração.
Para vós eu vou cantar, e a todos quero saudar
Do fundo do coração.

CANTIGAS POPULARES 3
EP, ORFEU, ATEP 6700



OLHOS PRETOS
(Popular/Arranjo e Direcção Musical: Jorge Palma)

Olhos pretos
pretos pretos
são gentis
são gentios da Guiné.

Ai da Guiné por serem pretos
gentios por não terem fé.

Olhos pretos
são brilhantes
semelhantes
aos luzeiros que o céu tem.

Uns olhos pretos
eu preferi
e nunca vi
de cor mais linda ninguém.

Olhos pretos
são brilhantes
semelhantes
aos luzeiros que o céu tem.



MENINA FLORENTINA
(Popular/Arranjo e Direcção Musical: Jorge Palma)

Ó menina Florentina
é do peito o coração, menina
seu amante delirante
de viagem chegou neste instante.

REFRÃO
Já cá está tiro-liro-liro-lé
Já cá está tito-liro-liro-ló
Já cá está tiro-liro ó amor
Tiro-liro abre a porta, ó branca flor.

Adormecei num jardim
a cheirar a branca flor
acordei e vi-me presa
nos braços do meu amor.

REFRÃO

Quando te não conhecia
Nada de ti se me dava
sem pensamentos dormia
sem cuidados acordava.

REFRÃO

O MENINO
SINGLE, POLYDOR, 2063 015



Entretanto Tonicha muda de editora e passa a ver as suas canções editadas pela Polydor, mais tarde tornada Polygram.
Em 1976, grava o disco "O Menino", com letra de José Carlos Ary dos Santos e música de Tozé Brito. No lado B, canta "Um grande amor" dos mesmos autores.

O MENINO
(J. C. Ary dos Santos / Tozé Brito)

Primeiro fui namorada
E depois mulher feliz
Foi por eu ter sido amada
Que um dia deitei raíz.

Raíz com braços e riso
Com olhos cheios de brilho
Para ser mãe é preciso
Gostar de fazer um filho.

O menino já salta à corda
Joga à bola num jardim
É tão lindo o mais lindo de todos
Porque andou dentro de mim.

O menino já vai à escola
Decora depressa e bem
Ele aprende a tornar-se um homem
E eu aprendo a ser mãe.

Não há no mundo outro amor
Tão imenso e tão profundo
Ser mãe é como dar flor
Pôr uma rosa no mundo.

A rosa que vai crescendo
Folha a folha espinho a espinho
A rosa que vai vivendo
No canteiro do carinho.



MARCHA DA MOURARIA
SINGLE, POLYDOR, 2063 022

Embora ao longo da sua carreira Tonicha tenha sempre feito o possível por não cantar temas de outros colegas cantores (pois sempre quis demarcar-se e construir o seu próprio repertório), gravou a "Marcha da Mouraria" (gravada e cantada por várias cantoras, talvez a mais conhecida seja a gravação deixada por Amália Rodrigues) e a "Marcha de Benfica", também para editora Polydor.



MARCHA da MOURARIA
(Raúl Ferrão / Frederico de Brito)

Mouraria garrida
Muito sacudida
Muito requebrada
Com seu tom de galdério
De moira encantada
É como um livro de novela
Onde o amor é tudo
E o ciúme impera
Ao abrir duma janela
Aparece o vulto daquela severa.
A marcha da Mouraria
Tem o seu quê de bairrista
Certos laivos de alegria
É a mais boémia
É a mais fadista.
Anda toda engraçada
De saia engomada
Blusinha de chita
É franzina pequena
Gaiata morena
Cigana bonita
Tem a guitarra p'ra gemer
Um amor submisso
Que nunca atraiçoa
Este bairro deve ser
'Inda o mais castiço
Da nossa Lisboa.



TU ÉS O ZÉ QUE FUMAS
SINGLE, POLYDOR, 2063 027

Em 1977, ainda pela editora Polydor (Phonogram), grava "Tu És o Zé Que Fumas".
O tema acabou por tornar-se um dos maiores êxitos populares da cantora, estando ainda hoje muito viva no imaginário popular português a interpretação muito característica de Tonicha.
No lado B do single aparece o tema "Cana Verde".




Tu és o Zé que fumas
(Popular / Arranjo: J. Libório)

Tu és o Zé que fumas
Tu és o fumador
Tu és o mariquinhas
Tu és o meu amor.

Ó lua vai-te deitar
Ai no quarto do meu amado
Ai dai-lhe beijinhos por mim
Ai se ele estiver acordado.

Já te dei o coração
Ai coisa que dar não podia
Já te dei a melhor prenda
Que no meu peito trazia.

Ó meu amor, meu amor
Ai ó meu amor, meu enleio
Quando comecei a amar-te
Tinha dez anos e meio.

Tenho corrido mil terras
Aldeias mais de quarenta
Tenho visto caras lindas
Só a tua me contenta.

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